Não deixar que o amor envelheça...
Outro dia, ao sair da igreja, vi na praça um casal de terceira idade. Ele magro, porém de físico robusto, sorridente, ar jovial, segurava a mão de sua amada com certo carinho e seu gesto demonstrava a intensidade do seu envolvimento com ela. Ela vestia um vestido que definia sua fina cintura, modelo de gola arredondada, usava óculos e sorria suavemente, e pela maneira como se movimentava era possível perceber, mesmo ao longe, a delicadeza com que se comunicava. Os dois observavam pequenas árvores que haviam sido plantadas recentemente. Pareciam um casal adolescente enamorado. Que linda visão contemplar pessoas mais velhas demonstrando sua afeição de casal.
No entanto, já deparei na rua com idosos, em que o marido caminhava adiantado, carrancudo, com roupas de aparência cinzenta e ar de pouca higiene, jeito de gente sistemática e ignorante, enquanto a esposa solitária se arrastava mais atrás, “com carinha de cachorro que caiu da mudança”, cabelo embaçado, roupas que eram apenas panos envelhecidos a lhe cobrir o corpo, e tive a triste impressão de que o amor entre eles sucumbiu há muito tempo.
É como se estivessem juntos apenas para manter a tradição. Em alguns casos acostumaram com a companhia um do outro. Em outros estão juntos porque estão velhos demais e tanto faz, ela continua seguindo os rituais de mulher submissa e ele de marido machão. Muitos arrastam a sua união como se fosse um fardo velho e pesado. Mesmo assim, é preciso existir um sentimento que sustente o estarem juntos. Só não sei que nome este sentimento tem.
Creio que as pessoas deveriam se preparar para envelhecerem juntas...
Durante o percurso é preciso atentar as mudanças ocorridas em suas vidas. Com o passar dos anos os gostos se modificam, adquirimos outras manias e até mesmo reforçamos as manias velhas. E devido às circunstâncias de cada fase do casamento, os cônjuges são forçados a abrir mão de tantas coisas e com isto deixam perde no tempo a qualidade do amor que os uniu. Perdem por não darem atenção aos seus corações no dia a dia. Por deixarem de lado a conquista, o romantismo, o diálogo, o carinho, e tantos outros atributos que fizeram seus corações pularem agitadamente no peito quando, ainda novos, se conheceram.
Na minha infância tínhamos um casal de amigos que sempre nos trouxeram admiração. Eles tinham filhas moças. Ele sempre gentil e eterno namorado. Ela doce, meiga e amada. Os anos passaram e quando nos encontramos todo aquele clima de amor que os envolvia no passado havia amadurecido juntamente com eles. Cabelos brancos, peles marcadas pelo tempo e o jeito que se amavam era mais intenso. Cada gesto, cada palavra, cada olhar, não era demonstração do momento aos visitantes, mas via-se que eles haviam transformado o seu “amor” em engrenagem para uma vida a dois feliz e segura.
Para alguns casais ao longo dos anos o amor perde suas forças e razões e muitos deles se tornam apenas moradores da mesma casa. Para outros os anos são como ferramentas que vão esculpindo e moldando o amor, tornando-o melhor, maior, magnífico, sublime.
É assim, que precisamos envelhecer!!! Velhos por fora, mas renovados pelo amor duradouro por dentro.
Tem gente que acredita ser apenas fantasia um casal continuar amando na 3ª idade, todavia é necessário que o sentimento que nos levou para o altar aumente de proporções juntamente com os anos. Porém, só existe uma fonte capaz de sustentar as raízes deste “elo” da união conjugal, Jesus Cristo.