quinta-feira, 3 de março de 2011

Fatos ocultos...

 Tiago olhou bem para o velocímetro antes de tirar o pé do pedal: 65 numa zona de 40. A quarta vez este ano. Como é que uma pessoa podia ser flagrada tantas vezes?
Quando chegou a quase parar, ele encostou o carro, mas deixou uma parte em cima da pista. Deixe o guarda se preocupar com o perigo do trânsito que passava. Talvez outro carro daria um susto nele. O policial estava descendo do carro, caneta e bloco na mão.
__ Roberto? Roberto da igreja? -Tiago baixou mais ainda no assento. Isso era pior do que a multa que ele receberia. Flagrado por um irmão policial da mesma igreja. Descendo do seu carro, Tiago viu um homem que via todo domingo, mas, nunca o havia visto de farda.

__“Oi, Roberto. Imagine encontrando você assim.”
__“Oi, Tiago”. Nada de sorriso.
__“Parece que você me flagrou correndo um pouquinho.
Querendo ver a mulher e os filhos.”
__“Pois é.” Roberto parecia meio incerto. Isso era um bom sinal.
__“Tenho trabalhado muito ultimamente. Parece que eu falhei só esta
vez.” Tiago empurrou uma pedrinha com o sapato. __“A esposa falou de um
rosbife e batatas hoje à noite. Sabe como é, né?”
__“Eu sei como é. Sei também que você tem uma reputação no nosso
 distrito.” Essa não! A conversa não estava indo nada bem. Hora de
 mudar de tática.
__“Quanto foi que você mediu”?
__“Setenta. Pode voltar para o carro, por favor”?
__“Pere aí, Roberto. Eu olhei assim que eu lhe vi. Eu estava mal
chegando a 65.” A mentira parecia sair com mais facilidade a cada
multa.
__“Por favor, Tiago. Volte para o carro.”
Chateado, Tiago voltou a entrar no carro, bateu a porta com força e
 olhou para o painel. Ele não tinha pressa nenhuma em baixar o vidro.
 Minutos passaram. Roberto estava escrevendo.  Por que ele não pediu a carteira de motorista? Seja qual for a razão, nem tão cedo Tiago sentaria perto desse policial na igreja.
Um toque no vidro e ele virou a cabeça. Lá estava Roberto, um papel
dobrado na mão. Tiago baixou o vidro cinco centímetros. Só o suficiente para puxar o papel.
__“’Brigado”. Tiago não conseguiu esconder a ironia na voz.
Roberto voltou à viatura sem dizer uma palavra. Tiago olhou para ele
 no retrovisor. Ele abriu a folha de papel. Quanto será que isso ia
 custar? Mas, o que era isso? Alguma piada? Não era uma multa. Apenas
 algumas palavras escritas à mão. Tiago começou a ler.
“Prezado Tiago, Era uma vez, eu tinha uma filha. Ela tinha seis anos
quando foi atropelada por um carro. Você adivinhou - um cara correndo
 em alta velocidade. Uma multa e três meses na cadeia, e ele estava livre. Livre para abraçar suas filhas, todas as três. Eu só tinha
 uma, e vou ter que esperar até os céus para abraçá-la outra vez. Já
 tentei perdoá-lo milhares de vezes. Milhares de vezes pensei que
 havia conseguido. Talvez consegui. Mas, preciso fazer de novo. Até
 mesmo agora. Ore por mim. E tenha cuidado Tiago. Só tenho agora meu
 filho. Roberto”.
 Tiago virou em tempo para ver a viatura voltar à pista e seguir
 adiante. Tiago ficou olhando até que saiu de vista. Ele só voltou à
 pista mais de quinze minutos depois e seguiu para casa, bem devagar,
orando por perdão o caminho todo. E quando chegou, deu um abraço que
 surpreendeu a esposa e os filhos.

A vida é preciosa. Trate-a com cuidado. Se você dirigir, dirija com cuidado. E lembre-se que os carros não são a única coisa que são chamadas de volta pelo fabricante.
 (autor desconhecido)